“De todo o amor que eu tenho, metade (ou mais) foi tu que me deu.”
Alguns amores são eternos e não há o que fazer.
Quando eu nasci minha irmã mais velha tinha 18 anos. Rosimeire o nome dela. (Carambolas, como eu acho meus pais corajosos por terem “engravidado de mim” depois de tanto tempo.)
Esses dias eu falei na terapia que minha família não tinha o costume de ler. (Provavelmente porque passar três meses em uma rotina diária de hospital com a Rosi me fez criar um bloqueio mental literário. Por muitos anos eu não consegui ler um livro pois, era abrir uma página e ir direto pra bendita fila do hospital, onde eu passava horas lendo ao esperar pra ver você.)
Mas o que eu disse na terapia não é verdade. Meu hábito de leitura foi totalmente me passado por ela. O primeiro livro que eu li na vida ainda guardo com carinho. “Direto à lua” é um dos presentes mais amorosos que Rosi me deu.
Eu aprendi tanto com ela! O amor aos animais materializado em seus inúmeros gatos que tivemos pela casa - Gerald em especial [rs].
Corridas de Fórmula 1! Rosi era a fã número 1 de Ayrton Senna. (Eu não me lembro por causa da idade, mas tenho completa certeza de que no fatídico dia 1/5/1994 eu estava em seus braços assistindo a corrida. E muito provavelmente não foi só essa.)
Engraçado pensar no dia 1/5 pois 30/04 era aniversário da Rosi. Sempre motivo de alegria e comemoração. Imagina que sonho ter um feriado declarado um dia após o seu aniversário, todos os fuckings anos? Um deleite para Rosi!
Inclusive, hoje, 30/04/2025, Rosimeire completaria 52 anos. Isso mesmo no passado porque o universo parece que gosta de levar as minhas irmãs antes do meu tempo
Rosi morreu de câncer. Nada nesse mundo fez com que eu me sentisse mais impotente do que aqueles momentos. Quando descobrimos o médico nos disse que ela estava doente há mais de um ano. Já havia metástases e nada poderia ser feito a não ser esperar pela sua morte. Assim mesmo, na lata.
“Ela é forte fisicamente, tem bastante gordura corporal e isso atrasa “o processo”, então não posso te dar uma data certa.
Pode ser hoje, amanhã, semanas, meses…
A única certeza é:
1. ela já não está sofrendo, estamos cuidando de tudo para que ela passe por isso da forma mais confortável perante a medicina.
2. VAI ACONTECER!”
Não tem como sair são de uma coisa dessas!
Voltando as coisas que aprendi com a Rosi, uma delas é o amor pela educação. Eu fui a única filha a ter a oportunidade de fazer faculdade na minha família, mas a Rosi foi a única a fazer, o que na época, chamavam de magistério.
Mas, seu grande sonho mesmo era estudar gastronomia. Pensa numa pessoa que gostava de cozinhar! E como cozinhava bem. Já se passaram 11 anos e eu ainda sinto falta do seu tempero, das suas sopas de legumes (nunca mais provei igual), das suas receitas de carnes assadas, grelhadas, cozidas…(vai ver é por isso que enquanto não me tornei ovolactovegetariana não sosseguei. Impossível comer carnes num mundo onde não exista mais você para preparar!)
Quando eu entrei na faculdade eu ainda tinha a capacidade de sonhar. Uma das minhas metas era pagar seu curso de gastronomia. Chef Rosimeire e uma Estrela Michelin combinam demais contigo! [rs] Uma pena que a vida não tenha nos dado esse tempo, irmã!
Eu sinto tanto a sua falta! Não só nessas datas especiais, mas principalmente.
Eu sinto falta da sua forma de demonstrar amor ao trazer Panetone e Ovos de Páscoa todos os anos. (Ao contrário da Lu que era grudada em mim, como contei em um dos meus textos de apresentação, a Rosi saiu de casa quando eu tinha 8 anos de idade em busca de uma vida melhor na capital. Nossa relação, obviamente, foi muito diferente. Nos víamos apenas nos feriados, férias, Natal, dia das Mães e outras datas comemorativas… Não era melhor nem pior, apenas diferente.)
Eu sinto falta dos seus gestos de carinho ao me escrever palavras emocionantes que me confortam (e não me deixam enlouquecer de vez) até hoje!
Eu sinto falta das nossas looooooooongas conversas pelo telefone fixo, que era a única forma que a tecnologia nos permitia estar perto, apesar da distância. (Na verdade eu sinto falta mesmo é da sua voz com aquele tom moderado de humor encantador!)
Ou será que na verdade não?
“Não sinto tua falta
Não sinto falta do teu cheiro
De perfume importado que exportou de mim
Não sinto falta do teu ''r'' puxado
Nem do teu beijo, gosto de dente que morde coração envenenado
Não sinto tua falta, não sinto
Nem lembro de você
Nem da tua respiração ofegante
Eu não sinto falta, sinto ânsia
Distância
Do teu signo preto
Do teu silêncio grito
Sinto ânsia e a provoco
Enfio os meus dez dedos na garganta
Pra ver se vomito o teu ser
Da minha alma”
✨
Você era completamente encantadora! Você é encantadora! Porque enquanto eu respirar você vive em mim. Não dá pra conjugar verbos no passado. Eu errei lá em cima. Não posso! Eu ainda te apresento à pessoas que não tiveram a honra de te conhecer na matéria. E também não deixo de falar sobre você para e com aquelas que tiveram. Eu honro você toda vez que eu lembro de nós! (o que na verdade é sempre, porque é impossível te esquecer.)
Mesmo que seja nessa nova forma de escapar da esmagadora realidade que é enfrentar a situação em que a minha vida chegou, escrevendo meus devaneios em forma de grito, quase um pedido de socorro, aqui nessa newsletter-novo-hobby.
Sendo assim, enquanto eu respirar e o que ainda respira em mim, (não que eu tenha a pretensão de que seja possível por muito tempo) EU VOU TE HONRAR! EU VOU TE AMAR - porque alguns amores realmente são eternos, e não, não há o que fazer.
Feliz 52 anos, querida irmã! (Em planos separados? Sim! Mas eu tenho certeza que você está feliz!)
Com todo o meu amor.,